terça-feira, setembro 04, 2012

De repente


De repente um sorriso, um abraço, uma frase que deixa a desejar.
De repente um olhar, um pensamento que muda tudo de lugar.
E tudo assim, de repente, leva a gente pra um caminho que a gente nunca sabe onde é que dá.
Se for bom é sempre lucro, do contrário é uma lição, e se não for dar pé a gente muda a direção.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Passou

Quando foi ver, já passou. Ficou só na lembrança. Quando vai ver, foi ontem. Um piscar de olhos e ficou na semana passada. Uma distração qualquer e já tá no mês passado. Um cochilo no meio da tarde e pronto: foi-se o ano. Passou.
Respira fundo, porque deu saudade. Respira um pouco mais fundo, porque não entende o motivo. Prende a respiração e segura, pra sufocar a vontade de voltar lá atrás. Solta o ar pela boca, com calma, e desapega dos detalhes que ficaram marcados no passado.
Respira, que num piscar de olhos o que precisava ficar no passado, fica. E só permanece no presente o que vale a pena. O que vale o risco. Não se esforce por nada que não se esforça pra ser. Perde o medo e solta o remo se não compensa mais remar contra a maré. Entrega os pontos, se for o caso, se achar que não vai dar pé.
E levanta a cabeça, sorrindo, porque foi até o final. Inspira pelo nariz, solta pela boca. Bem devagar, que é pra passar sem perceber. Foi. Passou. Agora é um quadro diferente, outra paisagem. Novinha em folha. Mais bonita. Merecida.
Ria sem receio. Brinque. Esqueça o que ficou pra trás. O que insistiu pra se tornar passado. Permita-se. Muda de rumo, troca de roupa, muda os planos. Sorria por pouca – ou muita – coisa. Viva. Chega de dar murro em ponta de faca. Passou, tá vendo? Passou.

terça-feira, julho 17, 2012

Poderia

Eu poderia acordar mais seca, mais fechada, menos amável. Eu poderia acordar não me importando mais com ninguém, não querendo mais saber de nenhuma vida que não a minha. Eu poderia acordar e me permitir um dia pra não sentir. Eu poderia acordar um dia sem querer ver nada que me agradasse, sem querer mover uma palha por nada e nem ninguém.
Eu poderia (muito bem) acordar nem aí pra esse mundão enorme. Acordar e resolver não me esforçar nem pra lembrar o nome de alguém. Eu poderia acordar com o botão do dane-se ligado, e poderia jogar o botão fora pra ninguém nunca mais desligar.
Eu poderia abrir os olhos e me recusar a me importar, me recusar a colocar mais pessoas dentro da minha vida. Eu poderia fechar minhas portas e viver única e exclusivamente na minha própria companhia. Eu poderia escolher não pensar em nada que não fosse absolutamente essencial.
Eu poderia fazer tudo isso se me esforçasse. Se fosse da minha vontade. Se fosse necessário. Eu poderia, basicamente, me reinventar todinha e me moldar ao que o mundo espera de mim. Mas eu me recuso. Eu me recuso a abrir mão de mim. Me recuso a mudar sequer um dos meus passos, pra agradar quem quer que seja; pra não sofrer por quem quer que seja. Quem faz de mim eu, sou eu. E o mundo pode me tirar o que for, mas ninguém me tira de mim.

sábado, julho 07, 2012

É isso

É isso. Um piscar de olhos e passou. Um descuido, um estar no lugar errado na hora errada e pronto. Um olhar pro lado esquerdo quando deveria ter olhado pro direito e pronto. Um passo a frente dado sem pensar muito. Um momento ínfimo de distração. A vida é isso. Momentos mínimos. Que a gente nem dá bola. A gente nem para pra pensar muito, a gente vai e faz. A gente vai vivendo e esquece que, aqui, estamos só de passagem.
Amanhã é um novo dia, e não é, nem por um segundo, uma certeza. E a gente nem se atenta muito a isso. A gente sempre acha que tá tudo bem, que não acontece com a gente, que somos blindados. Mas, repito, um piscar de olhos, e passou. Hoje você está aqui, e amanhã pode já não estar mais.
Eu digo e repito e peço e suplico: não deixem nada pra depois. Não tenham o amanhã como uma certeza. Não economizem palavras, sentimentos, carinhos. Não durmam brigados com ninguém. Não deixem pra se desculpar depois. Não deixem pra dizer o que sentem depois. Ninguém te dá garantia de que o depois estará lá.
Hoje é um conhecido, amanhã poderia ser um amigo, quiçá um parente ou alguém com quem você tenha laços fortíssimos. É tudo efêmero demais. Tudo passa. Sua dor passa, sua alegria passa, a vida passa e você nem vê. As pessoas passam e vão passando o tempo todo e você nem se dá ao trabalho de olhar pra elas.
E é isso. Só isso. Passa.

sábado, junho 30, 2012

Ensaio de um beijo

Quem nunca? Quem jamais ensaiou? Acontece na vida de todo mundo, hora ou outra. É aquele momento ímpar em que um dos dois está sempre esperando o desenrolar. É o clímax. Os segundos preferidos. Aquele pequeno espaço de tempo em que a gente ou está planejando agir, ou já imaginou a ação tantas vezes, antes, que tem medo de não saber reagir da maneira certa na hora.
É o espaço mais curto e mais comprido da noite. O minuto que foi tão planejado, tão esperado, tão desejado que dá até medo de travar. De passar mal. E a gente quase que passa mal. Tem aquele frio na barriga, as borboletas se alvoroçam todas no estômago, chega a faltar o ar. E o outro nem percebe. A gente aqui quase desmaiando, imaginando mil coisas, com mil outras coisas se mexendo dentro da gente, apavorando a gente, e o outro nem piriri.
E aí acontece. Por vezes é exatamente como esperado, por outras é muito melhor e, na pior das hipóteses, não é bom. A verdade é que a melhor parte não é nem durante o beijo, e nem depois. É o antes. É a preparação, são os segundos preciosos que antecedem a ação, e que são os que nos tiram o equilíbrio.
E cada caso é um caso. Por conta do antes, nenhum beijo, em si, é igual. O antes é o que define o durante e o depois. Aliás, o durante é padrão. É sempre a mesma coisa, é como andar de bicicleta. E, assim como andar de bicicleta, por vezes a gente até passeia um pouco em uma nova, mas a gente vai sempre se lembrar daquela antiga, que era a preferida.
A gente sempre vai ter uma bicicleta e um beijo preferidos. E cada pedalada nova é, ao mesmo tempo, única.


"Que tal um beijo, Saumensch?" (A menina que roubava livros)

terça-feira, junho 26, 2012

Tombos

Você vai se desequilibrar. Vai ter dias em que você vai tropeçar nas próprias pernas, nas próprias palavras, vai se estribar todo. Você vai levar aqueles tombos que a gente nunca sabe como aconteceram, que quando foi ver já estava no chão, caído.
E geralmente, quando isso acontecer, vai ralar seu joelho, sua perna, sua cara. Vai te ralar todo. Mas o que você vai fazer? Você vai sorrir. Porque tem gente demais esperando uma queda sua pra aplaudir, e ninguém tem o direito, nem por um momento sequer, de rir de você.
Então você vai sorrir e olhar bem pra cara daqueles que esperam tua queda, sem dizer nada. Mas o recado vai ser dado. Claro, cristalino. O seu sorriso vai esfregar na cara de quem espera pra te ver no chão, que não é um tombinho a toa que vai tirar teu rebolado. Não é qualquer pedrinha no caminho. E pros poucos que te desejam o melhor, que te acompanham na caminhada, seu sorriso vai ser o suficiente pra que eles saibam que você tem a força que eles imaginam que você tenha.
Os tombos são inevitáveis. E quando você cai, você pode chorar o joelho ralado, o orgulho ferido, ou rir por ser tão estabanada, tão leve, tão suscetível a cair de vez em quando. Você pode cair e dar um motivo pra que riam de você, ou cair e fazer do seu tombo um motivo pra rir de si mesma e de quem tem tanto tempo ocioso que fica vigiando seus passos.

terça-feira, junho 19, 2012

(Im)perfeições

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
Arnaldo Jabor

Deve ser por isso que é tão difícil destacar qualidades, e tão simples mencionar defeitos. Geralmente, quanto mais defeitos a pessoa tem, e mais defeitos a gente aprende a aceitar, mais consistente tende a ser o sentimento.
Porque a gente se molda de acordo com os defeitos do outro. Aceita, modela, passa por cima. Ignora. E se a gente é capaz de fazer isso é porque é forte. De verdade.
Porque amar qualidades é fácil demais, não dá mão-de-obra nenhuma, é simples. E embora as coisas simples sejam encantadoras, as complexas são mais saborosas. E selecionar todos os defeitos daquela criatura que te faz prender a respiração, tira o chão dos seus pés e te bota de cabeça pra baixo, elencar cada um deles, driblar, aceitar e perdoar... ah, isso é complexo.
A gente não se apaixona por qualidades. A gente se apaixona por defeitos que nos fazem passar tanto tempo cuidando, entendendo, perdoando, moldando, que quando vamos ver, são os nossos defeitos. Nossos porque a gente precisou lidar com eles, por vezes, mais que a outra pessoa. Nós adaptamos os defeitos e nos adaptamos aos defeitos, e quando vamos ver, é amor.
Por isso é tão fácil amar aquela pessoa que tende a ser a maior dor de cabeça. Porque, no fim das contas, a dor de cabeça se torna uma nova certeza que pode ser muito bonita. E essa dor dói e dói e dói mais uma vez, mas o depois, o descansar a cabeça no travesseiro tendo a certeza do outro, com todos os defeitos que são só dele e que o tornam A pessoa, valem a pena demais.

domingo, junho 17, 2012

Como quem crê

Como quem acredita em destino, ela insiste. Como quem não perde a fé, ela crê. Como quem acredita em finais felizes, ela vai até o fim. Tropeça, cai, rala o joelho, rala o peito, rala a alma. Se rala todinha por dentro: rala o coração, rala o orgulho. Fere, se machuca. Depois levanta e continua.
Como quem não se deixa abater por uma tempestade. Como quem não se deixa levar por tanta gente que não tem a mesma fé. Como quem acredita. Ela cai num buraco fundo e escala até a superfície, porque anseia pelo que vem pela frente.
O futuro é incerto demais, as únicas previsões que se pode fazer é que vai ter sorriso, vai ter choro. Vai ter desespero e vai ter paz. Vão ter madrugadas frias e dias ensolarados. Vai ter felicidade a rodo, e também vai ter aquela tristeza de derrubar o otimismo de uma nação inteira. Mas vai ter alguma coisa.
E é por isso que ela continua. Vai e quebra todos os protocolos, porque certamente não nasceu pra seguir regras alheias. Faz tudo a sua maneira, ainda que por vezes se engane e precise refazer tudo. Ela traça o seu caminho, rema contra toda a maré que venha de encontro. Nada na direção oposta, foge a todas as especulações. Foge das previsões. E quando acha que não vai dar pé, continua até onde o fôlego aguenta, até a hora que ela não aguentar de verdade.
Pra ela o hoje vai ser sempre melhor que o ontem, e certamente pior que o amanhã. E é nisso que ela acredita, é nisso que ela deposita sua fé. Ela crê por quem não crê em si mesmo, ainda que ela mesma não creia tanto assim nela. Mas a força dela, a que ninguém sabe de onde vem, tá ali pra quem quiser ver.
Vai cair quantas vezes forem necessárias. Vai se ralar toda, se quebrar toda. Vai chorar um rio, mas vai sorrir um oceano. E no fim, certamente, tudo vai ter valido a pena. Vai valer a pena pelas batalhas vencidas, os obstáculos deixados pra trás, as histórias pra se lembrar amanhã. Amanhã é outro dia, é um dia independente. É um dia singular. E como quem crê que o amanhã traz um dia ensolarado e milhões de outros momentos singulares, ela vive.

sexta-feira, junho 15, 2012

Bons momentos

A gargalhada mais gostosa é a que vem sem querer. A que acaba te surpreendendo quando irrompe garganta a fora. É aquela que não se pode conter, a risada que a gente dá de uma coisa boba que, na hora, foi engraçada demais.
O sorriso mais gostoso é o sorriso de criança. Porque é sincero. Isento de maldade. É o sorriso que diz tanto, sem palavra alguma. Vem acompanhado daquele brilho no olhar que só uma criança tem.
A lágrima mais gostosa é a que escapa no meio da gargalhada mais gostosa. A que escapa naquele momento singular de orgulho, felicidade, ou emoção. Aquela que quer dizer nada mais, nada menos, que: “eu me permiti viver um pouco, sorrir um pouco, arriscar um pouco pra me orgulhar um pouco”.
Ninguém é feliz sozinho. Gargalhadas não nascem na solidão, sorrisos sinceros são fruto de momentos sinceros e sentimentos sinceros. Lágrimas só são bonitas quando trazem uma alegria camuflada. A melhor parte da vida é feita de bons momentos que insistem em escorrer por entre os dedos.

domingo, junho 03, 2012

Amar

"É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e a cerveja é gelada.
É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identida...de. A coerência. O rebolado.
Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja.
Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na platéia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.
Difícil é amar quem não está se amando.
Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente."

Talvez o resto

                Talvez não um ano atrás. Não no princípio, não naquela primeira primavera. Talvez não naqueles primeiros sorrisos e lágrimas e sentimentos que começavam a aprender a se arrastar, engatinhar. Talvez não fosse possível, então. Talvez não passasse de uma fase. Talvez não durasse, e acabasse sendo nada, ou quase nada. Talvez sequer tivesse existido.
                Mas aquele dia foi o primeiro dia do primeiro ano de outros anos. Aquela foi a primeira, mas não a ultima primavera, não a única. Depois daqueles sorrisos todos, muitos mais estavam por vir, e todas as lágrimas que ainda prometiam rolar desde então foram e são capazes de encher todo um rio, quiçá um oceano.
                Aquele primeiro dia, naquela quase primavera, naqueles quase sentimentos formados e existentes, aquilo foi o princípio de algo que tomaria proporções estranhas e avassaladoras. Aquilo foi só o princípio. Aquele sentimento que se arrastava e engatinhava vagarosamente de um lado pro outro hoje anda em passos firmes e decididos. Passos que não vacilam e nem cogitam parar ou retroceder.
                Aquela fase foi só o princípio do resto. E o resto não acaba, não vira nada nunca, não diminui, não evapora, não some. O resto é mais do que resto. O resto é tudo. O resto engloba cada noite mal dormida, cada sorriso mal contido, cada gargalhada de quem conhece o outro até do avesso. O resto define o todo. Define, mas não limita. E existe. É tão certo quanto o nascer do sol de amanhã.
                Talvez, há um ano, o início, as primaveras, os sorrisos e lágrimas engatinhando não passassem de um borrão incerto e errante. Mas não hoje. Hoje eles são certeza. Hoje eles acordam, sorriem e dizem “bom dia” como quem sempre soube que ia crescer e se fortalecer. Talvez um ano atrás fosse tudo muito vago, mas hoje é tudo muito certo. Talvez, há um ano, sequer cogitasse ser amor. Mas hoje, decididamente, é.

quinta-feira, maio 24, 2012

Arco-íris

                A gente vê uma coisinha à toa, como um arco-íris pela manhã, e se sente bobo por achar lindo. Aí, por achar bonito e se achar bobo, a gente começa a pensar em mais uma série de coisas bobas, mas bonitas. A gente passa a ver tudo bem mais colorido, mais alegre, mais feliz. Mesmo que por uns milagrosos poucos minutos que, ainda que poucos, valem muito a pena.
                Por uma fração pequena, ínfima, do dia, a gente se permite ser feliz, doa a quem doer. A gente se permite sorrir só pra ter o prazer. Só pra poder chegar ao fim do dia e dormir tranqüilo, como quem diz “eu tomei minha dose de alegria hoje”. E faz bem. E é precioso, preciso.
                Por um breve momento, a gente precisa se dar ao luxo de ser bobo e achar as coisas bonitas. De esquecer tudo que é feio, podre, de mentira que tem ao nosso redor. A gente precisa ignorar, só um pouquinho, tanta gente de mentira, tanta gente que é, mas não é. Tanta gente que faz mal, tanta gente que não acrescenta.
                A gente precisa treinar pra que uma alegria minúscula anule toda a negatividade de um dia todo. Sem medo. Sem medo de depositar tanta carga em cima de uma alegria tão pequena. A gente precisa se permitir entender o poder que a felicidade tem sobre nós, ainda que ela seja tão fugaz.
                Depois a gente lida com o lixo todo. Depois a gente se pergunta como é que a gente vai segurar firme quem não é de mentira, pra que não vá embora, pra que não deixe o vazio, implacável. Mas depois a gente pensa nisso. Por ora, procura seu arco-íris do dia. Olha pra ele. Só um pouquinho, que seja. Só a dose diária, o suficiente pra anular todo o resto. Mas olha. E aproveite, pois o arco-íris desaparece tão logo quanto surgiu. Ele se desintegra no ar, assim como tudo o que é bonito.

domingo, maio 13, 2012

Preciosidade

                Todos os dias, todo mundo fala o suficiente sobre amor. Mais do que o suficiente, em determinados casos. No fim das contas, “eu te amo” já não é exclusividade nenhuma. Amar parece ser um lance muito fácil, muito simples. Somos capazes de amar pessoas, bichos, coisas, lugares, sensações. O amor acabou se alojando nas entranhas dos seres humanos. Mas talvez a melhor das formas não seja, ainda, a mais lembrada. A forma mais pura.
                A mais bonita de todas. A que mais se sacrifica pelo bem daqueles que são seus. Aquele amor que, de todos, é o mais puro. Perca cinco minutos do seu precioso tempo e tente pensar em quem daria a vida por você num piscar de olhos, sem nem pensar nas conseqüências. Quem se responsabilizou por você desde o momento em que você – literalmente – passou a existir. Aquela que esteve lá por você, ainda que você não estivesse sempre lá, por ela.
                Pare por cinco minutos do seu precioso tempo, do seu precioso dia, da sua preciosa vida, e pergunte-se se você, por acaso, teria todas essas preciosidades, não fosse o ser mais precioso de todo o universo. Não fosse o carinho daquela criatura que, ainda que você seja um pé no saco, não responda sempre da melhor forma possível, não reaja ou aja de acordo com o que ela esperava de você, sempre esteve lá, independente de tudo.
                Sua mãe, meu caro, é o único ser vivo no universo que trocaria a vida dela pela sua, se fosse esse o caso. Que enfrentaria o mundo por você, ainda que você sequer merecesse. Ainda que, muitas vezes, nem ela soubesse o que estava fazendo, e se estava fazendo direito – porque, veja bem, criar outro ser não deve ser das mais fáceis tarefas – por nenhum segundo ela fraquejou, por nenhum momento cogitou te deixar pra trás.
                A sua mãe é seu único amor. O amor pra vida inteira. O anjo que permanece ao teu lado até que você possa abrir suas asas e voar sozinho. Pra longe, mas não tão longe que ela não possa alcançá-lo. O anjo que, algumas vezes, precisa partir antes da hora, porque precisa dar uma ajuda lá em cima, ao lado de Deus, mas que continua presente, ainda assim.
                Portanto, não deixe de amar. Não censure seus “eu te amo” de cada dia, mas tenha a certeza de que, de todos, o maior amor do mundo ainda pertença a ela. Pessoas vêm e vão, coisas se perdem, com o tempo, se desgastam e por vezes simplesmente somem. Lugares estarão sempre lá e sensações são passageiras. Mas aquele amor que nasceu mesmo antes de você, mesmo nos nove meses em que você não a conhecia, mas ela te conhecia muito bem, aquele amor é o que você deve levar com você pra sempre. E passar para seus filhos, que serão tão seus quanto dela. Ame sua mãe sem nunca pedir nada em troca, porque é exatamente isso que ela tem feito desde o primeiro instante de toda a sua existência.

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Feliz dia das Mães, só pra constar.

sexta-feira, maio 11, 2012

D e v a g a r

Não se pode abraçar o mundo todo. Um passo de cada vez. Devagar, que é pra não tropeçar. Devagar, que é pra, se houver uma colisão, não seja tão preocupante. Devagar, que é pra ver a paisagem que passa ao teu lado, e curtir essa paisagem. Não pense em fazer 85 trabalhinhos de uma só vez, quando você sabe que tem a capacidade de fazer alguns poucos que vão valer bem mais a pena, e vão te fazer melhor. Devagar porque, como diz o clichê: o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho, é no dicionário. Portanto, um passo de cada vez.

sexta-feira, maio 04, 2012

Sozinhos

No fim do dia, o mal do mundo é a solidão. Passem dias, meses, anos tentando entender a raiz dos seus problemas, pra no fim das contas, se dar conta de que o mal da raça humana é a solidão. Que me corrijam caso eu esteja enganada, mas tanta gente faz tanta besteira e se pergunta o tempo todo “por quê?”, e se for levar a pergunta a fundo, se for investigar de verdade, vai acabar, uma hora ou outra, se dando conta que a resposta é “solidão”.
A verdade é que cada um sabe seus defeitos, e como é o natural, os defeitos que a gente mais odeia são os defeitos que a gente mais presta atenção. Isso faz com que a gente preste a maior atenção do mundo nos defeitos insuportáveis que a gente tem, e perceba que por nos conhecermos tão a fundo, por sabermos todos os nossos podres, são poucas as vezes em que estamos contentes estando apenas em nossa própria companhia.
Daí é que surgem as meninas que colocam um decote que mostra até a alma. Garotos que agem feito babacas completos, mesmo sem querer. Meninas ciumentas. Caras ciumentos. Gente insegura. Gente chiclete. Menina que não se dá ao valor que merece. Menino que tem medo de chegar em menina. Gente que se mata em academias dia após dia, sendo escravo do próprio corpo. Gente que se mata. Gente que não se aceita. Gente.
Talvez aquela garota que você julga por usar um decote e uma mini saia que, combinados, são capazes de mostrar a alma dela – e no pior sentido da expressão –, esteja apenas tentando encontrar uma forma de chamar atenção de alguém, pra ter alguém, pra não ficar sozinha. Aquele cara que é uma graça, mas age feito um babaca, faz piadas sem graça achando que está mandando muito bem, talvez ache mesmo que está mandando muito bem, e que precisa continuar assim, pra não ficar sozinho. Aquele casal que tem ciúme doentio um do outro, porque tem medo do outro achar outra mais interessante e partir, e alguém vai acabar ficando sozinho. Aquela menininha que liga de cinco em cinco minutos, estressa quando não recebe resposta, faz tudo muito dobrado, exagerado, pra quê? Pra ser ouvida, porque acha que vai prender alguém e, assim, não vai acabar sozinha. Aquele rapazinho que tem um amor platônico por aquela outra mocinha, mas não fala com ela porque tem medo de levar um fora e acabar, de alguma forma, ficando sozinho. Aquele povo todo nas academias, queimando gorduras que não existem, tomando suplementos absurdos pra ter um corpo perfeito que foi estipulado pelos padrões da moda por gente que parece que nunca tá sozinha.
Percebem como é um ciclo? São atitudes inicialmente classificadas como futilidades, que se enraízam na mesma razão: medo de estar sozinho. E é uma pena que essas atitudes todas, no fim das contas, acabem “saindo pela culatra”. As vulgares incompreendidas acabam sendo usadas porque são incompreendidas. O babaca – que talvez nem seja um babaca –, no final, afasta as pessoas, mesmo sem querer. O casal ciumento se machuca tanto que acaba não se suportando no final. A chatinha assusta e afasta quem ela mais quer por perto. O tímido acaba não falando nada e nunca vai ter a certeza do que poderia ter sido ou não. Tanta gente que se mata metaforicamente, que se mata literalmente: sai pela culatra.
O medo de ficar sozinho é global. Eu tenho, você tem, todos ao seu redor têm. Ninguém tem coragem de ficar pra sempre apenas na própria companhia, sem alguém pra dividir a responsabilidade de aceitar seus piores defeitos. Mas é tão pouca gente disposta a assumir, tão pouca gente disposta a aceitar, que esse acaba sendo um medo universal e absoluto. E o pior de tudo: incorrigível.

quarta-feira, maio 02, 2012

Marcado

Que a verdade seja dita: eu não esqueço das coisas. Não esqueço o que fiz de bom pra alguém, nem o que esse alguém me fez de bom. Mas, mais que qualquer coisa, eu não esqueço o que me fez de mal.
Não pensem vocês que eu sou do tipo de pessoa que não sabe perdoar, que não sabe colocar ponto final em mal-entendido – ou muito bem entendido –, que não sabe virar a página. Eu sei, sério. Mas eu viro a página e deixo sempre um marcador, porque é sempre bom marcar esse tipo de coisa. É simples assim: eu marco.
E quanto maior for a cagada – minha ou da outra pessoa – mais chamativo é o marca página, que é pra não esquecer mesmo, pra reler a história de vez em quando. Se for um capítulo que eu escrevi, é bom reler pra não fazer de novo, pra não repetir histórias. Se for o capítulo que alguém escreveu por mim, é bom reler até decorar, pra não correr o risco de deixar outra pessoa escrever um capítulo parecido.
Mas eu não esqueço mesmo. E como se não bastasse, eu guardo mágoa. Eu guardo rancor. Não que isso seja motivo de orgulho, mas é uma coisa minha. Eu perdôo, porque não sou ninguém pra julgar ninguém, mas minha confiança é coisa rara de recuperar. E eu não finjo. Eu não sei fingir. Se eu tô brava, eu tô brava de verdade. Se eu tô magoada, chateada, machucada, eu vou lembrar isso assim que vir a pessoa que causou o dano.
Eu não minto. Eu guardo rancor. Eu guardo mágoa. Eu perdôo, mas não esqueço – se é que isso é possível. Eu tenho uma memória do tamanho de um elefante, então não se surpreenda se eu repetir, palavra a palavra, alguma coisa que alguém me falou. É o meu jeito. Se souber lidar, tá bacana. Se pisar na bola, tá marcado.

sábado, abril 28, 2012

Meus direitos

Eu tenho meus direitos, sabe? Direito a tudo, tudo que eu quiser. Tenho direito a amar, a odiar, a não me importar, a me importar muito, demais. Direito de ficar doente, de ficar de cama, de ficar triste, de explodir de tanta felicidade. Tenho direito de falar ou não bom dia – ainda que você tenha, igualmente, o direito de me classificar ou não como mal-educada –, mas que eu estou no meu direito... Ah, eu estou.
Se eu quiser te pedir pra calar a boca, eu posso. Não tem nada que me impeça – a menos que você seja meu chefe, porque se você for, perder o emprego me impede, sim –, e você tem o direito absoluto de não querer calar a boca. Eu tenho direito de não gostar de você, que é igual ao direito que você tem de não gostar de mim, também. Mas eu repito, eu tenho meus direitos.
Eu tenho direito de estar na minha, tranqüila, na boa. Tenho direito de não ter vontade de sair da cama, tenho direito de não querer sair de casa porque estou com preguiça e, aliás, tenho também o direito de ter essa preguiça. Eu tenho direito de morrer de rir, e tenho direito de ficar quieta e não demonstrar emoção nenhuma, ou de parecer triste ainda que eu não esteja. Eu tenho direito de querer estar só, única e exclusivamente em minha própria companhia.
Dados todos os meus direitos, venho ressaltar o direito que eu tenho de me irritar. Eu tenho, absolutamente, todo o direito do mundo de me irritar caso alguém queira me dizer o que eu tenho ou não que fazer. Caso alguém queira me manipular usando meu psicológico, só porque é um pouco fácil me fazer ceder. Tenho direito a ficar profundamente magoada com quem não entende que eu tenho meus direitos e que eu quero ser respeitada. Se eu não quero falar, eu não falo, saco! Se eu não quero me arrumar pra sentar em um barzinho e ficar jogando conversa fora, eu não me arrumo e eu não saio de casa! Porque eu tenho o direito de não querer sair de casa. E isso não me faz, de maneira alguma, uma pessoa ruim.
E você tem o direito de não querer estar por perto, ainda que jure de pés juntos que gosta de mim e se importa. Eu não tiro seu direito, de maneira alguma. Eu só preciso que entendam que querer estar sozinha, ter preguiça, querer ficar vendo filme debaixo do cobertor em um dia frio ou querer simplesmente ficar deitada lendo um livro não me torna uma péssima amiga, muito menos uma péssima pessoa. Só me torna uma pessoa exercendo o direito de exercer todos os demais direitos. Entendeu?

Preguiça

Dá uma preguiça enorme desse mundo onde a gente vive. Dá uma preguiça enorme de viver no meio dele. Dá preguiça de olhar pro lado e ver tanta gente que mente, que engana – que engana os outros e a si mesmo –, tanta gente querendo ser o que não é! Dá preguiça dessa gente toda rindo numa festa que está um porre porque tá todo mundo de porre e se você não fica de porre também, você é careta ou, no pior dos casos, você se dá conta de que a festa está uma bosta e que não tem como ir embora porque sua carona está gostando da merda toda.
Dá preguiça, porque a gente morre de medo de mostrar nosso lado bom, já que o mundo tá acostumado demais com gente ruim, e quando você mostra a sua bondade, as pessoas esperam isso de você e, não contentes, se aproveitam. Aí você acaba até – olha que absurdo! – se perguntando se você é a única pessoa certa mesmo, ou se o mundo é quem está certo e você está sozinha remando contra a maré. Aí dá mais preguiça ainda.
Dá a maior preguiça de amar alguém, porque ninguém mais sabe criar raízes, ninguém mais sabe amar só por amar. Tem sempre que ter alguma coisa por trás. Ninguém mais sabe amar cem por cento, é tudo sempre muito vago, muito pela metade. Quando a gente se arrisca a amar alguém, tem que fingir ser pela metade também, porque amor, nos dias de hoje, assusta, afasta. Aí, quando a gente se arrisca a amar, dá mais preguiça ainda de pensar no depois, porque todo mundo sempre vai embora. É difícil demais achar amigo que fica, amor que fica, gente que fica. Todo mundo tem preguiça de ficar e criar laços, então vai embora.
No fim das contas, dá o maior medo de sentir alguma coisa. Seja amor, seja paixão, bondade. A gente não pode, nos dias de hoje, sentir nada. E se sentir, não pode demonstrar, porque depois é preciso voltar recolhendo os escombros, e isso dá preguiça demais. No fim das contas, a única preguiça que não me dá preguiça é meu gato preguiçoso.

sexta-feira, abril 27, 2012

O sujeitinho


De repente vem um sujeitinho e fala: “Ame! Se abre pro amor! Deixa rolar!”. Como se fosse fácil. Como se fosse tirar doce da boca de criança. Geralmente esse tipo de conselho é seguido de perto pelo “seja leve”. Seja leve, pelo amor de Deus, s-e-j-a l-e-v-e. Tá.
De repente vem aquele sujeitinho que te vê de longe, não sabe o que você pensa, não sabe o que você sente, não sabe o que existe dentro de você, e descarrega uma centena de regrinhas que você precisa seguir pra amar, pra ser leve, pra conseguir deixar rolar. Como se fosse fácil.
Alguém tem que avisar ao sujeitinho que pra quem não sabe ser leve, um cutucãozinho toma as proporções de um tiro de bazuca. Que quem não sabe ser pela metade sofre dobrado, triplicado. Alguém conta pra ele que dá um medo absurdo de tentar deixar rolar, porque assim a gente ainda corre o risco de simplesmente não rolar. E ai?
E se ser leve não for o suficiente? E se o “deixar rolar” acabe enrolando, se embolando, complicando, e no final não role nada? Quem é que paga o prejuízo? Quem é que paga a conta do terapeuta?
A verdade é que pra ser leve alguém precisa tirar o peso todo que quem não é leve carrega nas costas. Tem que tirar todo o medo, toda a repressão, toda a insegurança. Quem é que consegue ajudar com isso? Amar é fácil, e dos conselhos do sujeito, esse é o único que dá pra seguir. Amar é fácil! "Ser leve" é que são elas.