A gente vê uma coisinha à toa, como um arco-íris pela manhã, e se sente bobo por achar lindo. Aí, por achar bonito e se achar bobo, a gente começa a pensar em mais uma série de coisas bobas, mas bonitas. A gente passa a ver tudo bem mais colorido, mais alegre, mais feliz. Mesmo que por uns milagrosos poucos minutos que, ainda que poucos, valem muito a pena.
Por uma fração pequena, ínfima, do dia, a gente se permite ser feliz, doa a quem doer. A gente se permite sorrir só pra ter o prazer. Só pra poder chegar ao fim do dia e dormir tranqüilo, como quem diz “eu tomei minha dose de alegria hoje”. E faz bem. E é precioso, preciso.
Por um breve momento, a gente precisa se dar ao luxo de ser bobo e achar as coisas bonitas. De esquecer tudo que é feio, podre, de mentira que tem ao nosso redor. A gente precisa ignorar, só um pouquinho, tanta gente de mentira, tanta gente que é, mas não é. Tanta gente que faz mal, tanta gente que não acrescenta.
A gente precisa treinar pra que uma alegria minúscula anule toda a negatividade de um dia todo. Sem medo. Sem medo de depositar tanta carga em cima de uma alegria tão pequena. A gente precisa se permitir entender o poder que a felicidade tem sobre nós, ainda que ela seja tão fugaz.
Depois a gente lida com o lixo todo. Depois a gente se pergunta como é que a gente vai segurar firme quem não é de mentira, pra que não vá embora, pra que não deixe o vazio, implacável. Mas depois a gente pensa nisso. Por ora, procura seu arco-íris do dia. Olha pra ele. Só um pouquinho, que seja. Só a dose diária, o suficiente pra anular todo o resto. Mas olha. E aproveite, pois o arco-íris desaparece tão logo quanto surgiu. Ele se desintegra no ar, assim como tudo o que é bonito.