quinta-feira, maio 24, 2012

Arco-íris

                A gente vê uma coisinha à toa, como um arco-íris pela manhã, e se sente bobo por achar lindo. Aí, por achar bonito e se achar bobo, a gente começa a pensar em mais uma série de coisas bobas, mas bonitas. A gente passa a ver tudo bem mais colorido, mais alegre, mais feliz. Mesmo que por uns milagrosos poucos minutos que, ainda que poucos, valem muito a pena.
                Por uma fração pequena, ínfima, do dia, a gente se permite ser feliz, doa a quem doer. A gente se permite sorrir só pra ter o prazer. Só pra poder chegar ao fim do dia e dormir tranqüilo, como quem diz “eu tomei minha dose de alegria hoje”. E faz bem. E é precioso, preciso.
                Por um breve momento, a gente precisa se dar ao luxo de ser bobo e achar as coisas bonitas. De esquecer tudo que é feio, podre, de mentira que tem ao nosso redor. A gente precisa ignorar, só um pouquinho, tanta gente de mentira, tanta gente que é, mas não é. Tanta gente que faz mal, tanta gente que não acrescenta.
                A gente precisa treinar pra que uma alegria minúscula anule toda a negatividade de um dia todo. Sem medo. Sem medo de depositar tanta carga em cima de uma alegria tão pequena. A gente precisa se permitir entender o poder que a felicidade tem sobre nós, ainda que ela seja tão fugaz.
                Depois a gente lida com o lixo todo. Depois a gente se pergunta como é que a gente vai segurar firme quem não é de mentira, pra que não vá embora, pra que não deixe o vazio, implacável. Mas depois a gente pensa nisso. Por ora, procura seu arco-íris do dia. Olha pra ele. Só um pouquinho, que seja. Só a dose diária, o suficiente pra anular todo o resto. Mas olha. E aproveite, pois o arco-íris desaparece tão logo quanto surgiu. Ele se desintegra no ar, assim como tudo o que é bonito.

domingo, maio 13, 2012

Preciosidade

                Todos os dias, todo mundo fala o suficiente sobre amor. Mais do que o suficiente, em determinados casos. No fim das contas, “eu te amo” já não é exclusividade nenhuma. Amar parece ser um lance muito fácil, muito simples. Somos capazes de amar pessoas, bichos, coisas, lugares, sensações. O amor acabou se alojando nas entranhas dos seres humanos. Mas talvez a melhor das formas não seja, ainda, a mais lembrada. A forma mais pura.
                A mais bonita de todas. A que mais se sacrifica pelo bem daqueles que são seus. Aquele amor que, de todos, é o mais puro. Perca cinco minutos do seu precioso tempo e tente pensar em quem daria a vida por você num piscar de olhos, sem nem pensar nas conseqüências. Quem se responsabilizou por você desde o momento em que você – literalmente – passou a existir. Aquela que esteve lá por você, ainda que você não estivesse sempre lá, por ela.
                Pare por cinco minutos do seu precioso tempo, do seu precioso dia, da sua preciosa vida, e pergunte-se se você, por acaso, teria todas essas preciosidades, não fosse o ser mais precioso de todo o universo. Não fosse o carinho daquela criatura que, ainda que você seja um pé no saco, não responda sempre da melhor forma possível, não reaja ou aja de acordo com o que ela esperava de você, sempre esteve lá, independente de tudo.
                Sua mãe, meu caro, é o único ser vivo no universo que trocaria a vida dela pela sua, se fosse esse o caso. Que enfrentaria o mundo por você, ainda que você sequer merecesse. Ainda que, muitas vezes, nem ela soubesse o que estava fazendo, e se estava fazendo direito – porque, veja bem, criar outro ser não deve ser das mais fáceis tarefas – por nenhum segundo ela fraquejou, por nenhum momento cogitou te deixar pra trás.
                A sua mãe é seu único amor. O amor pra vida inteira. O anjo que permanece ao teu lado até que você possa abrir suas asas e voar sozinho. Pra longe, mas não tão longe que ela não possa alcançá-lo. O anjo que, algumas vezes, precisa partir antes da hora, porque precisa dar uma ajuda lá em cima, ao lado de Deus, mas que continua presente, ainda assim.
                Portanto, não deixe de amar. Não censure seus “eu te amo” de cada dia, mas tenha a certeza de que, de todos, o maior amor do mundo ainda pertença a ela. Pessoas vêm e vão, coisas se perdem, com o tempo, se desgastam e por vezes simplesmente somem. Lugares estarão sempre lá e sensações são passageiras. Mas aquele amor que nasceu mesmo antes de você, mesmo nos nove meses em que você não a conhecia, mas ela te conhecia muito bem, aquele amor é o que você deve levar com você pra sempre. E passar para seus filhos, que serão tão seus quanto dela. Ame sua mãe sem nunca pedir nada em troca, porque é exatamente isso que ela tem feito desde o primeiro instante de toda a sua existência.

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Feliz dia das Mães, só pra constar.

sexta-feira, maio 11, 2012

D e v a g a r

Não se pode abraçar o mundo todo. Um passo de cada vez. Devagar, que é pra não tropeçar. Devagar, que é pra, se houver uma colisão, não seja tão preocupante. Devagar, que é pra ver a paisagem que passa ao teu lado, e curtir essa paisagem. Não pense em fazer 85 trabalhinhos de uma só vez, quando você sabe que tem a capacidade de fazer alguns poucos que vão valer bem mais a pena, e vão te fazer melhor. Devagar porque, como diz o clichê: o único lugar onde sucesso vem antes de trabalho, é no dicionário. Portanto, um passo de cada vez.

sexta-feira, maio 04, 2012

Sozinhos

No fim do dia, o mal do mundo é a solidão. Passem dias, meses, anos tentando entender a raiz dos seus problemas, pra no fim das contas, se dar conta de que o mal da raça humana é a solidão. Que me corrijam caso eu esteja enganada, mas tanta gente faz tanta besteira e se pergunta o tempo todo “por quê?”, e se for levar a pergunta a fundo, se for investigar de verdade, vai acabar, uma hora ou outra, se dando conta que a resposta é “solidão”.
A verdade é que cada um sabe seus defeitos, e como é o natural, os defeitos que a gente mais odeia são os defeitos que a gente mais presta atenção. Isso faz com que a gente preste a maior atenção do mundo nos defeitos insuportáveis que a gente tem, e perceba que por nos conhecermos tão a fundo, por sabermos todos os nossos podres, são poucas as vezes em que estamos contentes estando apenas em nossa própria companhia.
Daí é que surgem as meninas que colocam um decote que mostra até a alma. Garotos que agem feito babacas completos, mesmo sem querer. Meninas ciumentas. Caras ciumentos. Gente insegura. Gente chiclete. Menina que não se dá ao valor que merece. Menino que tem medo de chegar em menina. Gente que se mata em academias dia após dia, sendo escravo do próprio corpo. Gente que se mata. Gente que não se aceita. Gente.
Talvez aquela garota que você julga por usar um decote e uma mini saia que, combinados, são capazes de mostrar a alma dela – e no pior sentido da expressão –, esteja apenas tentando encontrar uma forma de chamar atenção de alguém, pra ter alguém, pra não ficar sozinha. Aquele cara que é uma graça, mas age feito um babaca, faz piadas sem graça achando que está mandando muito bem, talvez ache mesmo que está mandando muito bem, e que precisa continuar assim, pra não ficar sozinho. Aquele casal que tem ciúme doentio um do outro, porque tem medo do outro achar outra mais interessante e partir, e alguém vai acabar ficando sozinho. Aquela menininha que liga de cinco em cinco minutos, estressa quando não recebe resposta, faz tudo muito dobrado, exagerado, pra quê? Pra ser ouvida, porque acha que vai prender alguém e, assim, não vai acabar sozinha. Aquele rapazinho que tem um amor platônico por aquela outra mocinha, mas não fala com ela porque tem medo de levar um fora e acabar, de alguma forma, ficando sozinho. Aquele povo todo nas academias, queimando gorduras que não existem, tomando suplementos absurdos pra ter um corpo perfeito que foi estipulado pelos padrões da moda por gente que parece que nunca tá sozinha.
Percebem como é um ciclo? São atitudes inicialmente classificadas como futilidades, que se enraízam na mesma razão: medo de estar sozinho. E é uma pena que essas atitudes todas, no fim das contas, acabem “saindo pela culatra”. As vulgares incompreendidas acabam sendo usadas porque são incompreendidas. O babaca – que talvez nem seja um babaca –, no final, afasta as pessoas, mesmo sem querer. O casal ciumento se machuca tanto que acaba não se suportando no final. A chatinha assusta e afasta quem ela mais quer por perto. O tímido acaba não falando nada e nunca vai ter a certeza do que poderia ter sido ou não. Tanta gente que se mata metaforicamente, que se mata literalmente: sai pela culatra.
O medo de ficar sozinho é global. Eu tenho, você tem, todos ao seu redor têm. Ninguém tem coragem de ficar pra sempre apenas na própria companhia, sem alguém pra dividir a responsabilidade de aceitar seus piores defeitos. Mas é tão pouca gente disposta a assumir, tão pouca gente disposta a aceitar, que esse acaba sendo um medo universal e absoluto. E o pior de tudo: incorrigível.

quarta-feira, maio 02, 2012

Marcado

Que a verdade seja dita: eu não esqueço das coisas. Não esqueço o que fiz de bom pra alguém, nem o que esse alguém me fez de bom. Mas, mais que qualquer coisa, eu não esqueço o que me fez de mal.
Não pensem vocês que eu sou do tipo de pessoa que não sabe perdoar, que não sabe colocar ponto final em mal-entendido – ou muito bem entendido –, que não sabe virar a página. Eu sei, sério. Mas eu viro a página e deixo sempre um marcador, porque é sempre bom marcar esse tipo de coisa. É simples assim: eu marco.
E quanto maior for a cagada – minha ou da outra pessoa – mais chamativo é o marca página, que é pra não esquecer mesmo, pra reler a história de vez em quando. Se for um capítulo que eu escrevi, é bom reler pra não fazer de novo, pra não repetir histórias. Se for o capítulo que alguém escreveu por mim, é bom reler até decorar, pra não correr o risco de deixar outra pessoa escrever um capítulo parecido.
Mas eu não esqueço mesmo. E como se não bastasse, eu guardo mágoa. Eu guardo rancor. Não que isso seja motivo de orgulho, mas é uma coisa minha. Eu perdôo, porque não sou ninguém pra julgar ninguém, mas minha confiança é coisa rara de recuperar. E eu não finjo. Eu não sei fingir. Se eu tô brava, eu tô brava de verdade. Se eu tô magoada, chateada, machucada, eu vou lembrar isso assim que vir a pessoa que causou o dano.
Eu não minto. Eu guardo rancor. Eu guardo mágoa. Eu perdôo, mas não esqueço – se é que isso é possível. Eu tenho uma memória do tamanho de um elefante, então não se surpreenda se eu repetir, palavra a palavra, alguma coisa que alguém me falou. É o meu jeito. Se souber lidar, tá bacana. Se pisar na bola, tá marcado.