terça-feira, setembro 04, 2012

De repente


De repente um sorriso, um abraço, uma frase que deixa a desejar.
De repente um olhar, um pensamento que muda tudo de lugar.
E tudo assim, de repente, leva a gente pra um caminho que a gente nunca sabe onde é que dá.
Se for bom é sempre lucro, do contrário é uma lição, e se não for dar pé a gente muda a direção.

segunda-feira, agosto 27, 2012

Passou

Quando foi ver, já passou. Ficou só na lembrança. Quando vai ver, foi ontem. Um piscar de olhos e ficou na semana passada. Uma distração qualquer e já tá no mês passado. Um cochilo no meio da tarde e pronto: foi-se o ano. Passou.
Respira fundo, porque deu saudade. Respira um pouco mais fundo, porque não entende o motivo. Prende a respiração e segura, pra sufocar a vontade de voltar lá atrás. Solta o ar pela boca, com calma, e desapega dos detalhes que ficaram marcados no passado.
Respira, que num piscar de olhos o que precisava ficar no passado, fica. E só permanece no presente o que vale a pena. O que vale o risco. Não se esforce por nada que não se esforça pra ser. Perde o medo e solta o remo se não compensa mais remar contra a maré. Entrega os pontos, se for o caso, se achar que não vai dar pé.
E levanta a cabeça, sorrindo, porque foi até o final. Inspira pelo nariz, solta pela boca. Bem devagar, que é pra passar sem perceber. Foi. Passou. Agora é um quadro diferente, outra paisagem. Novinha em folha. Mais bonita. Merecida.
Ria sem receio. Brinque. Esqueça o que ficou pra trás. O que insistiu pra se tornar passado. Permita-se. Muda de rumo, troca de roupa, muda os planos. Sorria por pouca – ou muita – coisa. Viva. Chega de dar murro em ponta de faca. Passou, tá vendo? Passou.

terça-feira, julho 17, 2012

Poderia

Eu poderia acordar mais seca, mais fechada, menos amável. Eu poderia acordar não me importando mais com ninguém, não querendo mais saber de nenhuma vida que não a minha. Eu poderia acordar e me permitir um dia pra não sentir. Eu poderia acordar um dia sem querer ver nada que me agradasse, sem querer mover uma palha por nada e nem ninguém.
Eu poderia (muito bem) acordar nem aí pra esse mundão enorme. Acordar e resolver não me esforçar nem pra lembrar o nome de alguém. Eu poderia acordar com o botão do dane-se ligado, e poderia jogar o botão fora pra ninguém nunca mais desligar.
Eu poderia abrir os olhos e me recusar a me importar, me recusar a colocar mais pessoas dentro da minha vida. Eu poderia fechar minhas portas e viver única e exclusivamente na minha própria companhia. Eu poderia escolher não pensar em nada que não fosse absolutamente essencial.
Eu poderia fazer tudo isso se me esforçasse. Se fosse da minha vontade. Se fosse necessário. Eu poderia, basicamente, me reinventar todinha e me moldar ao que o mundo espera de mim. Mas eu me recuso. Eu me recuso a abrir mão de mim. Me recuso a mudar sequer um dos meus passos, pra agradar quem quer que seja; pra não sofrer por quem quer que seja. Quem faz de mim eu, sou eu. E o mundo pode me tirar o que for, mas ninguém me tira de mim.

sábado, julho 07, 2012

É isso

É isso. Um piscar de olhos e passou. Um descuido, um estar no lugar errado na hora errada e pronto. Um olhar pro lado esquerdo quando deveria ter olhado pro direito e pronto. Um passo a frente dado sem pensar muito. Um momento ínfimo de distração. A vida é isso. Momentos mínimos. Que a gente nem dá bola. A gente nem para pra pensar muito, a gente vai e faz. A gente vai vivendo e esquece que, aqui, estamos só de passagem.
Amanhã é um novo dia, e não é, nem por um segundo, uma certeza. E a gente nem se atenta muito a isso. A gente sempre acha que tá tudo bem, que não acontece com a gente, que somos blindados. Mas, repito, um piscar de olhos, e passou. Hoje você está aqui, e amanhã pode já não estar mais.
Eu digo e repito e peço e suplico: não deixem nada pra depois. Não tenham o amanhã como uma certeza. Não economizem palavras, sentimentos, carinhos. Não durmam brigados com ninguém. Não deixem pra se desculpar depois. Não deixem pra dizer o que sentem depois. Ninguém te dá garantia de que o depois estará lá.
Hoje é um conhecido, amanhã poderia ser um amigo, quiçá um parente ou alguém com quem você tenha laços fortíssimos. É tudo efêmero demais. Tudo passa. Sua dor passa, sua alegria passa, a vida passa e você nem vê. As pessoas passam e vão passando o tempo todo e você nem se dá ao trabalho de olhar pra elas.
E é isso. Só isso. Passa.

sábado, junho 30, 2012

Ensaio de um beijo

Quem nunca? Quem jamais ensaiou? Acontece na vida de todo mundo, hora ou outra. É aquele momento ímpar em que um dos dois está sempre esperando o desenrolar. É o clímax. Os segundos preferidos. Aquele pequeno espaço de tempo em que a gente ou está planejando agir, ou já imaginou a ação tantas vezes, antes, que tem medo de não saber reagir da maneira certa na hora.
É o espaço mais curto e mais comprido da noite. O minuto que foi tão planejado, tão esperado, tão desejado que dá até medo de travar. De passar mal. E a gente quase que passa mal. Tem aquele frio na barriga, as borboletas se alvoroçam todas no estômago, chega a faltar o ar. E o outro nem percebe. A gente aqui quase desmaiando, imaginando mil coisas, com mil outras coisas se mexendo dentro da gente, apavorando a gente, e o outro nem piriri.
E aí acontece. Por vezes é exatamente como esperado, por outras é muito melhor e, na pior das hipóteses, não é bom. A verdade é que a melhor parte não é nem durante o beijo, e nem depois. É o antes. É a preparação, são os segundos preciosos que antecedem a ação, e que são os que nos tiram o equilíbrio.
E cada caso é um caso. Por conta do antes, nenhum beijo, em si, é igual. O antes é o que define o durante e o depois. Aliás, o durante é padrão. É sempre a mesma coisa, é como andar de bicicleta. E, assim como andar de bicicleta, por vezes a gente até passeia um pouco em uma nova, mas a gente vai sempre se lembrar daquela antiga, que era a preferida.
A gente sempre vai ter uma bicicleta e um beijo preferidos. E cada pedalada nova é, ao mesmo tempo, única.


"Que tal um beijo, Saumensch?" (A menina que roubava livros)

terça-feira, junho 26, 2012

Tombos

Você vai se desequilibrar. Vai ter dias em que você vai tropeçar nas próprias pernas, nas próprias palavras, vai se estribar todo. Você vai levar aqueles tombos que a gente nunca sabe como aconteceram, que quando foi ver já estava no chão, caído.
E geralmente, quando isso acontecer, vai ralar seu joelho, sua perna, sua cara. Vai te ralar todo. Mas o que você vai fazer? Você vai sorrir. Porque tem gente demais esperando uma queda sua pra aplaudir, e ninguém tem o direito, nem por um momento sequer, de rir de você.
Então você vai sorrir e olhar bem pra cara daqueles que esperam tua queda, sem dizer nada. Mas o recado vai ser dado. Claro, cristalino. O seu sorriso vai esfregar na cara de quem espera pra te ver no chão, que não é um tombinho a toa que vai tirar teu rebolado. Não é qualquer pedrinha no caminho. E pros poucos que te desejam o melhor, que te acompanham na caminhada, seu sorriso vai ser o suficiente pra que eles saibam que você tem a força que eles imaginam que você tenha.
Os tombos são inevitáveis. E quando você cai, você pode chorar o joelho ralado, o orgulho ferido, ou rir por ser tão estabanada, tão leve, tão suscetível a cair de vez em quando. Você pode cair e dar um motivo pra que riam de você, ou cair e fazer do seu tombo um motivo pra rir de si mesma e de quem tem tanto tempo ocioso que fica vigiando seus passos.

terça-feira, junho 19, 2012

(Im)perfeições

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.
Arnaldo Jabor

Deve ser por isso que é tão difícil destacar qualidades, e tão simples mencionar defeitos. Geralmente, quanto mais defeitos a pessoa tem, e mais defeitos a gente aprende a aceitar, mais consistente tende a ser o sentimento.
Porque a gente se molda de acordo com os defeitos do outro. Aceita, modela, passa por cima. Ignora. E se a gente é capaz de fazer isso é porque é forte. De verdade.
Porque amar qualidades é fácil demais, não dá mão-de-obra nenhuma, é simples. E embora as coisas simples sejam encantadoras, as complexas são mais saborosas. E selecionar todos os defeitos daquela criatura que te faz prender a respiração, tira o chão dos seus pés e te bota de cabeça pra baixo, elencar cada um deles, driblar, aceitar e perdoar... ah, isso é complexo.
A gente não se apaixona por qualidades. A gente se apaixona por defeitos que nos fazem passar tanto tempo cuidando, entendendo, perdoando, moldando, que quando vamos ver, são os nossos defeitos. Nossos porque a gente precisou lidar com eles, por vezes, mais que a outra pessoa. Nós adaptamos os defeitos e nos adaptamos aos defeitos, e quando vamos ver, é amor.
Por isso é tão fácil amar aquela pessoa que tende a ser a maior dor de cabeça. Porque, no fim das contas, a dor de cabeça se torna uma nova certeza que pode ser muito bonita. E essa dor dói e dói e dói mais uma vez, mas o depois, o descansar a cabeça no travesseiro tendo a certeza do outro, com todos os defeitos que são só dele e que o tornam A pessoa, valem a pena demais.

domingo, junho 17, 2012

Como quem crê

Como quem acredita em destino, ela insiste. Como quem não perde a fé, ela crê. Como quem acredita em finais felizes, ela vai até o fim. Tropeça, cai, rala o joelho, rala o peito, rala a alma. Se rala todinha por dentro: rala o coração, rala o orgulho. Fere, se machuca. Depois levanta e continua.
Como quem não se deixa abater por uma tempestade. Como quem não se deixa levar por tanta gente que não tem a mesma fé. Como quem acredita. Ela cai num buraco fundo e escala até a superfície, porque anseia pelo que vem pela frente.
O futuro é incerto demais, as únicas previsões que se pode fazer é que vai ter sorriso, vai ter choro. Vai ter desespero e vai ter paz. Vão ter madrugadas frias e dias ensolarados. Vai ter felicidade a rodo, e também vai ter aquela tristeza de derrubar o otimismo de uma nação inteira. Mas vai ter alguma coisa.
E é por isso que ela continua. Vai e quebra todos os protocolos, porque certamente não nasceu pra seguir regras alheias. Faz tudo a sua maneira, ainda que por vezes se engane e precise refazer tudo. Ela traça o seu caminho, rema contra toda a maré que venha de encontro. Nada na direção oposta, foge a todas as especulações. Foge das previsões. E quando acha que não vai dar pé, continua até onde o fôlego aguenta, até a hora que ela não aguentar de verdade.
Pra ela o hoje vai ser sempre melhor que o ontem, e certamente pior que o amanhã. E é nisso que ela acredita, é nisso que ela deposita sua fé. Ela crê por quem não crê em si mesmo, ainda que ela mesma não creia tanto assim nela. Mas a força dela, a que ninguém sabe de onde vem, tá ali pra quem quiser ver.
Vai cair quantas vezes forem necessárias. Vai se ralar toda, se quebrar toda. Vai chorar um rio, mas vai sorrir um oceano. E no fim, certamente, tudo vai ter valido a pena. Vai valer a pena pelas batalhas vencidas, os obstáculos deixados pra trás, as histórias pra se lembrar amanhã. Amanhã é outro dia, é um dia independente. É um dia singular. E como quem crê que o amanhã traz um dia ensolarado e milhões de outros momentos singulares, ela vive.