Eu tenho meus direitos, sabe? Direito a tudo, tudo que eu quiser. Tenho direito a amar, a odiar, a não me importar, a me importar muito, demais. Direito de ficar doente, de ficar de cama, de ficar triste, de explodir de tanta felicidade. Tenho direito de falar ou não bom dia – ainda que você tenha, igualmente, o direito de me classificar ou não como mal-educada –, mas que eu estou no meu direito... Ah, eu estou.
Se eu quiser te pedir pra calar a boca, eu posso. Não tem nada que me impeça – a menos que você seja meu chefe, porque se você for, perder o emprego me impede, sim –, e você tem o direito absoluto de não querer calar a boca. Eu tenho direito de não gostar de você, que é igual ao direito que você tem de não gostar de mim, também. Mas eu repito, eu tenho meus direitos.
Eu tenho direito de estar na minha, tranqüila, na boa. Tenho direito de não ter vontade de sair da cama, tenho direito de não querer sair de casa porque estou com preguiça e, aliás, tenho também o direito de ter essa preguiça. Eu tenho direito de morrer de rir, e tenho direito de ficar quieta e não demonstrar emoção nenhuma, ou de parecer triste ainda que eu não esteja. Eu tenho direito de querer estar só, única e exclusivamente em minha própria companhia.
Dados todos os meus direitos, venho ressaltar o direito que eu tenho de me irritar. Eu tenho, absolutamente, todo o direito do mundo de me irritar caso alguém queira me dizer o que eu tenho ou não que fazer. Caso alguém queira me manipular usando meu psicológico, só porque é um pouco fácil me fazer ceder. Tenho direito a ficar profundamente magoada com quem não entende que eu tenho meus direitos e que eu quero ser respeitada. Se eu não quero falar, eu não falo, saco! Se eu não quero me arrumar pra sentar em um barzinho e ficar jogando conversa fora, eu não me arrumo e eu não saio de casa! Porque eu tenho o direito de não querer sair de casa. E isso não me faz, de maneira alguma, uma pessoa ruim.
E você tem o direito de não querer estar por perto, ainda que jure de pés juntos que gosta de mim e se importa. Eu não tiro seu direito, de maneira alguma. Eu só preciso que entendam que querer estar sozinha, ter preguiça, querer ficar vendo filme debaixo do cobertor em um dia frio ou querer simplesmente ficar deitada lendo um livro não me torna uma péssima amiga, muito menos uma péssima pessoa. Só me torna uma pessoa exercendo o direito de exercer todos os demais direitos. Entendeu?